sábado, 6 de abril de 2013

a vaca da vida

se dava muito facilmente a todos que piscavam ou respiravam perto dela.
mal falada, sem moral e sem honra, as pessoas não a chamavam de prostituta apenas por ela não cobrar nada alem do próprio prazer.
já namorou com o rapaz dos pescados, com os homens do trem, pedreiros e enfermeiros dos postos, cada homem do asilo ou do bar da esquina.
coitada e insaciada, na verdade era simpática, mas mulher alguma queria fazer amizade. toda sua delicadeza não compensava sua aparência denegrida.
em cada canto e em cada beco se encostando em cada velho ou jovem que passa por perto.
um nobre em seu carro grande desceu a rua com porte e dinheiro, viu a moça tão solta e rindo enquanto se lavava num tanque e numa poça, deu-lhe um cheiro no cangote e pegou-a no braço.
os homens não se conformaram, as mulheres saíram nas janelas em fofocas e blá blá blás, a moça fora puxada pra dentro de um carro muito mais caro do que qualquer residencia da cidade.
linda e simpática  sorria e acenava pelo teto solar do carro enquanto o homem segurava suas pernas pra que não caísse.
ria como nunca havia rido com homem algum. era como se nenhuma frase fizesse sentido, como se o vento levasse não só seus cabelos, mas todos os pensamentos também.
as mulheres viram a cena, admiraram a beleza que nunca haviam notado naquela vaca sem graça que esbarrava nos maridos das velhas...
satisfeita com cada toque, com cada respiro. mais satisfeita que com qualquer desses homens que haviam dado um minimo de carinho para conquistar seus melhores movimentos.
maldita que não prestava estava melhor que todos, a cidade aplaudia e dizia com toda a falsidade na cara "parabéns, case! seja feliz! estamos felizes por você!" .
as velhas perderam seus maridos, os velhos, os jovens, pedreiros, enfermeiros, todos os homens. eles se foram. as mulheres ficaram sozinhas chorando e implorando pra que a bela moça voltasse.
a moça não voltou, não voltaria nunca mais. nem os homens da cidade. nem a alegria das mulheres que até hoje se arrependem a cada segundo por não ter feito amizade com a moça. muita coisa podia ter sido diferente. tente imaginar.

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